sábado, 24 de novembro de 2007

A linha não quis o bonde

Pousar nos trilhos o bondinho pousou. Mas como pode um bonde pousar? Pousando, ora! Ele desce do caminhão que o carregou até a rua Joaquim Murtinho e pousa sobre os trilhos, simples. Só não vai andar tão cedo, para frustração do Leonardo e Pedro, os dois primeiros passageiros que tomaram o lugar do motorneiro ali na foto. É que a moderníssima tecnologia VLT fez com que algumas peças ficassem tão rentes ao chão que o resultado foi o da foto abaixo: ao andar, raspam nos paralelepípedos devido a um desnível nos lugares onde os trilhos não sofreram restauração. Nos bondes, diferente do trem e do metrô, são dois pares de trilhos, um para o lado direito, outro para o esquerdo. A roda se apóia no trilho de fora. Com o passar do tempo, o terreno e os dormentes cedem. Com isso o trilho de dentro, de alinhamento das rodas, fica mais alto. No sistema antigo tudo bem, o bonde fica lá no alto. Mas no novo... Parece até que os antigos trilhos resolveram rejeitar a modernidade. E com razão, é preciso adaptá-los.

Resultado: ou se alinham os trilhos ou levanta-se o bonde. Assim, bonde novo só em julho, diz o secretário de Transportes.

Mas ficou uma gracinha e, promete-se, muito mais confortável que antes.

Quanto aos estribos, é aquilo mesmo. São fixos. Ou seja, permitirão caronas e crianças perderão braços e pernas sob as rodas de ferro. Antigamente, os estribos iam de um a outro parachoque. Há pouco mais de dez anos, alguma inteligência do Departamento de Bondes decidiu cortar os estribos deixando-os apenas no espaço correspondente aos bancos de passageiros. Isso para evitar caronas dos lados das cabines.

Certa vez, ao descer do bonde no Largo das Neves, já com o veículo parado, botei o pé justamente onde não havia mais estribo e, por pouco, não me esborrachei no chão. Pouco tempo depois, também no Largo das Neves, um passageiro desceu com o bonde andando. Botou o pé no ex-estribo e foi parar deitado de costas sobre o trilho. Berrei para o motorneiro que conseguiu fazer o bonde parar, já com a roda dianteira esquerda entre as pernas do rapaz, a dez centímetros de cortá-lo em dois no sentido longitudinal. Subir ou descer do bonde andando é sempre um perigo.

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