quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Certa manhã na Central do Brasil


Sabe a farmácia do Lula? Pois ali no subsolo da Central do Brasil tem uma, onde vou a cada dois meses comprar os remedinhos que significam a diferença entre estar acima ou abaixo do solo desta muy hermosa. Há também outra diferença: em farmácias comuns, aquelas que não cobram impostos de aposentados, os comprimidos custariam cerca de trezentas pratas. Na Drogaria Popular, R$ 55,00, um absurdo segundo a Marinilda, que recomenda cadastrar-me no Posto de Saúde da prefeitura que, de graça, me enviará os remédios pelo Correio.
Ocorre que na outra esquina fica o Bar do Gomes e imagina se alguém de lá me vê entrar ou sair do Posto, né? Nem pensar! Além disso, não encontraria a Carol:
Foi ontem, por volta das dez horas da manhã. Tinha levado o Leonardo à rua Jurupari, na Praça Saens Peña e aproveitava a hora e meia da consulta dele para renovar o estoque de isosorbidas e estatinas. A primeira atendente conferiu a receita, calculou o número de comprimidos, somou os valores e entregou-me o talão para ir ao caixa pagar os R$ 55,00. Entreguei à moça atrás do vidro a lista com os valores a pagar, cinqüenta reais e fiquei procurando nos bolsos uma nota de cinco para dar o dinheiro certo. Não achei e, desculpando-me, dei-lhe mais cinqüenta.
Dizem que com a idade a gente vai perdendo o tato. E é verdade. O vidro que separa os clientes dos funcionários do caixa é opaco, tem um buraco no meio e uma fresta em baixo, por onde passam valores, papéis e vozes e quase nada da vista. De modo que quase não deu para ver a moça. Mas ouvi bem quando ela disse:

– Senhor, são só R$ 55,00, o sr. deu cento e cinqüenta!

E devolveu os cinqüenta excedentes. Quando puxei do bolso a primeira nota, vieram duas e não percebi. Pelo buraco do vidro deu para vê-la fazer o troco, estendê-lo e desejar um bom dia ao senhor distraído.
No balcão do outro lado, a atendente não quis dizer o nome da moça do Caixa 2 sem antes saber por que eu queria saber. Quando contei, deu o nome da colega, Carol, e insistiu que eu contasse a história à gerente. Não deu para esperar. Peguei os comprimidos e fui embora pedindo que contasse ela mesma. Não podia deixar aquelas moças me verem chorar. As lágrimas só foram parar lá na rua Jurupari, quando avistei o flanelinha que teria de enfrentar em seguida.
Foi com um gesto simples, como quem tira uma poeirinha de cima do balcão, que a Carol devolveu o dinheiro. Mas que fez um velho descrente enviar aquele valor em alimentos aos flagelados de Santa Catarina e pensar que um mundo onde se pode encontrar pessoas como ela ainda é um bom lugar para se viver.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Olha o avião!


Estava varrendo o terraço quando esses caras passaram assim como quem não quer nada e só tive tempo de pensar como seria bom se no lugar da vassoura eu tivesse uma câmera na mão. Felizmente o fotógrafo Ivo Gonzalez tinha a câmera e estava atento. O grande mestre Ruy Paneiro, incorrigível otimista, acredita que nesta foto está a metade da FAB. Para mim, não tem nem 1% se contar a turma que não voa!